Cada vez que me olho no espelho
fica mais clara
a contribuição dos outros
para a minha formação.
Vejo nitidamente,
em mim mesmo,
(que mais pareço
uma colcha de retalhos)
cada trapo que me foi costurado
por quem tive a felicidade de conhecer.
Até mesmo quem nunca conheci,
costurou seu trapo em mim.
Através de suas idéias,
que foram a linha e a agulha.
Posso ver também
os trapos que costurei
nas colchas dos outros.
Tenho lentes que fazem
nítida a imagem dos outros,
e clara a minha contribuição
para a metamorfose alheia.
Ainda não tenho os binóculos
para poder ver se minhas idéias
foram a linha e a agulha
para alguém que não conheço.
Mas em breve terei.
Fico plenamente satisfeito
em ver meu trapo
fazendo parte da colcha do mundo.
Fico feliz também
em ver o que me tornei
graças aos trapos do mundo.
Só espero
que não se fume.
Para que não ocorram grandes incêndios.
Assim todos os trapos
serão conservados.
Caso grandes incêndios ocorram,
espero que os trapos seja ao menos lembrados
para que se tenha a esperança
de um dia os trapos voltem a existir.
Sem trapos e sem a esperança,
teremos a infelicidade de perceber
que sem eles,
somos apenas pequenas ilhas
espalhadas e distantes.
E que o mar há de nos engolir.
Estranho pensar que mesmo uma ilha, não está totalmente isolada, por mais que ela aparente ser solitária, por mais profunda que seja a fossa absal em suas bordas, há sempre uma terra, e a mesma terra que liga os continentes, o mesmo interior, não há como fugir, já viu algo escapar da Terra num pulo? A gravidade é grave!
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