sábado, 9 de janeiro de 2010

O Coveiro

Ahh
Um primeiro post, e provavelmente o último.
Pra um blog que não existe, e provavelmente nunca vai existir.
Porque sempre tranco meus problemas, minhas angústias na minha mente.
Longe do alcance de todos, só o tempo pode chegar a esse meu cemitério.

Sempre que chega alguma nova angústia chega a esse lugar
eu a acompanho,
em parte por bons modos,
em parte por vontade de visitar o que jaz lá há muito tempo.
Sempre levando flores que me são entregues pelo tempo,
o único capaz de manter todos em paz nesse cemitério, para sempre.

Mas a nova “inquilina” desse lugar,
tão soberba, me faz uma exigência.
Diz que não me deixará descansar, não me dará trégua
a menos que o que ela representa seja traduzido em palavras.

Nunca dou ouvidos a essas inquilinas folgadas.
Sempre as enterro no meu cemitério,
com ou sem a ajuda do tempo.

Mas essa,
essa nova é diferente de tudo.
É algo que precisa mais do que a minha singela força de vontade,
mesmo que tenha ajuda do bom e velho tempo, o melhor coveiro.

Escrever é algo que eu jamais pensaria em fazer para aliviar a dor
ou para ajudar a mim e ao tempo nesse duro trabalho de coveiro.
Aprendi a pouco tempo.
Com quem me ensinou muito, em muito pouco tempo,
me ensinou a pensar, a viver.

Mas vamos a o que interessa.
O motivo dessa minha atitude atípica:

Arrependimento

Que , diga-se de passagem, já é velho conhecido de todos nós, humanos.
A mim parece um grande acidente, uma fatalidade, uma batida de carro,
a queda de uma ponte, o deslizamento de terra
A avalanche.

Que destrói tudo em seu caminho.
Como se não fosse nada, como se nunca estivesse ali, como se não fosse importante,
como se não representasse nada para ninguém.

Sempre começa com algo bobo, idiota, banal, corriqueiro
(eventos insignificantes à primeira vista).
Mas como uma avalanche (mortal e invisível),
Torna-se algo que muda a vida das pessoas em segundos, para sempre
E na maioria das vezes essas pessoas são importantes para nós.
Aliás, se não fossem, por que nos arrependeríamos?

O pior de tudo, é que ninguém pode ver essa avalanche a tempo de nos salvar.
Só sabemos que ela existiu quando tudo já foi destruído.
Carregar esse fardo sem compartilhar a dor com quem confiamos se torna um desafio.

Ahh esse leite.
Por que foi derramado?
Como um alimento tão importante se tornou algo a ser desprezado, isolado, “limpo”?

Porque o copo que o mantinha são e salvo se tornou um monte de cacos?
Lâminas impiedosas que machucam a nós e a quem amamos.

Bom, manter essas perguntas em mente é tão útil quanto tentar mudar o passado,
reverter a avalanche, ao invés de tentar consertá-la.
Seria como lamentar a morte de pessoas queridas, vítimas da avalanche,
enquanto os sobreviventes ainda gritam por socorro.

Mas apesar de tudo, somos humanos.
E antes de perder o direito de errar,
seria melhor perder o direito de viver.

Com esse erro vem a lição já aprendida por outros
“Breve é a loucura, longo o arrependimento.” (Friedrich Schiller)


(Agora mais um desabafo, completamente fútil e dispensável para todos,
mas me ajuda com a tarefa de coveiro)


É engraçado como pensamos que sofremos sozinhos.
Que o pior sofrimento do mundo é o nosso.
Que é uma falta de respeito o mundo girar
enquanto estamos tão mal, sem defesa, aflitos.

Como ousa o sol nascer, fazer um lindo dia,
enquanto a tempestade ácida e silenciosa consome nossa mente,
destruindo nossa vontade, acabando com nossa fome, nosso sono.

Ele nasce para mostrar o seu tamanho, o seu poder.
Nasce para mostrar que somos pequenos de mais para ter um sofrimento tão grande.
Mostra que o peso do mundo deve estar sobre os ombros dele,
e não sobre os nossos.

Ele também nos mostra que estamos falhando na nossa única missão.
Que é viver, desperdiçamos o precioso tempo de nossas vidas efêmeras
simplesmente porque estamos tristes, aflitos, inseguros, com medo.

E é assim que o sol, a avalanche e o tempo
ajudaram-me a levantar, depois de uma queda
que aparentemente iria me impedir de andar novamente.
Ajudaram-me a conter essa fera, essa angústia sem igual
que com minha pá e minha pouca inteligência não poderia domar.

Now I thank you, spilled milk
For teaching me how to live, again.

Please remember,
It’s hard to forget the past (I wish I had a brainwasher)
It’s impossible to change it.
And that makes overcoming it look easy.

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